17 de mai. de 2009

Priante detona governo de Ana Júlia


Governo de Ana Júlia não tem cara nem obras, ataca Priante.

Sob um bombardeio de críticas à governadora Júlia Carepa, a quem acusa de "traição" e de estar levando seu governo a ser "um dos piores da história do Pará", o ex-deputado José Priante, presidente do Diretório Municipal do PMDB, defende o rompimento "imediato" do partido com o governo petista e a entrega de todos os cargos. "É um governo sem cara, sem obras e sem projetos", ataca Priante, acrescentando que Ana Júlia governa apoiada na Democracia Socialista (DS), uma das tendências política abrigadas no PT.

Segundo o ex-deputado, o pior de tudo é que Ana Júlia perde uma oportunidade rica, porque tem como aliado o governo do presidente Lula, que, "este sim, tem obras e tem transformado socialmente o Brasil". Na entrevista a O Liberal, Priante afirma que o governo paraense patina porque não tem demonstrado capacidade de construir momentos importantes para o Estado. E diz que não é só o PMDB quem reclama dessa oportunidade que a governadora está perdendo. "Tenho ouvido as mesmas críticas de pessoas e lideranças importantes dentro do próprio PT". Resume.

Perguntado se sua posição não contraria o pensamento do chefe do partido no Estado, o deputado federal Jader Barbalho, que até então tem se mantido calado sobre o barulho feito por integrantes do seu partido na relação com o governo, o ex-deputado salienta ser um "homem partidário", mas repete que se o PMDB sair agora do governo "já sai tarde".


Pergunta- O PMDB entregou o Detran e o Hospital Ophir Loyola à governadora Ana Júlia e ameaça romper de vez com o governo. Que avaliação, como presidente do Diretório Municipal de Belém do PMDB, o sr. faz hoje dessa relação do seu partido com o governo dela?

Resposta- A relação do PMDB com o governo e do governo com o PMDB é muito ruim. Um vive reclamando do outro e isso não é bom para ambos. Está na hora de o PMDB fazer uma reflexão, rediscutir seu posicionamento em relação ao governo, avaliar a aliança e trilhar um outro caminho. É hora de o PMDB sair desse governo. Ele deve entregar agora todos os cargos e discutir seu rumo para 2010. Não dá mais para ficar dentro do governo, mas reclamando dele permanentemente.

P- O que o PMDB reclama do governo?

R- É muito claro o esvaziamento que o governo da Ana Júlia vem dando ao PMDB. A governadora vem fazendo isso desde o início do seu mandato. Os espaços do partido foram todos esvaziados por ela. E mais do que isso: não há uma discussão com o PMDB com relação a um projeto para o Estado.

P- Quer dizer que o governo Ana Júlia, com apoio do PMDB, já está caminhando para o terceiro ano no poder e ainda não tem um projeto para o Estado?

R- O governo da Ana Júlia está perdendo suas feições. Ela foi eleita sob uma expectativa extraordinária de mudanças, abrindo um caminho de renovação e de prosperidade no Pará. Foi isso que o PMDB defendeu quando decidiu apoiá-la. Hoje, porém, o governo dela decepciona o Pará, os aliados políticos e a todos.

P- Como o sr. define o atual governo?

R- É um governo sem cara, sem obras e sem projetos. O pior é que perde uma oportunidade rica, porque tem como aliado o governo do presidente Lula, que, este sim, tem obras e tem transformado socialmente o Brasil. O governo paraense patina porque não tem demonstrado capacidade de construir momentos importantes para o Estado. Não é só o PMDB quem reclama dessa oportunidade que a governadora está perdendo, mas tenho ouvido isso também dentro do próprio PT.

P- O PT também se queixa dela?

R- Claro. Tenho conversado com pessoas importantes do PT paraense e as queixas são as mesmas. O problema é que a Ana Júlia governa com uma tendência, a DS (Democracia Socialista), que é minoritária dentro do PT, marginalizando outras tendências importantes. Para mim, o governo ainda não saiu da primeira fase, que é a do governo do fuxico: tem muita discussão dentro da tendência dela, muita conversa e pouca ação de governo. Usando uma linguagem bem popular e lembrando um ex-governador, o governo da Ana Júlia não tem sequer uma batida de cumeeira. As únicas inaugurações que ela fez foi do Hospital Regional de Santarém e do Hangar. Que, aliás, nem são delas. São obras do governo anterior.

P- Se o governo é um fracasso, onde entra a responsabilidade do PMDB nesse fracasso, já que o seu partido é aliado da governadora, recebeu cargos e secretarias desse mesmo governo? O PMDB também não tem culpa no cartório?

R- O papel do PMDB foi construir um governo de mudanças. Para isso eu me sacrifiquei, deixando uma tranqüila reeleição de deputado federal, para sair candidato a governador e impedir a vitória do Almir Gabriel. A estratégia deu certo. No segundo turno eu apoiei a Ana Júlia, assim como todo o PMDB paraense sob a liderança do deputado Jader Barbalho. Elegemos a governadora e, a partir daí, passamos a dar sustentação política a esse governo, mas sem abrir mão das mudanças que queríamos e queremos para o nosso Estado. Ela não pode reclamar do apoio que recebe da nossa bancada na Assembléia Legislativa e na Câmara Federal. Estou dizendo tudo isso para que uma coisa fique bem clara: o PMDB apoiou o governo, mas não participa das diretrizes desse governo.

P- Pelo que entendi, o PMDB não participa do governo, embora tenha cargos no governo?

R- Hoje, o PMDB sequer tem cargos, ele tem empregos. Veja o caso da Secretaria de Obras, do Chicão, que não faz jus ao nome, porque não tem obras. O nosso valoroso Chicão vai acabar sua gestão, se ainda continuar lá, sem inaugurar uma obra sequer. Que secretaria é essa, que não inaugura nada? O Detran é apenas um órgão de arrecadação no Estado e não tem problema. O Lívio (Lívio Assis, diretor demissionário do órgão), com sua capacidade e competência, fez o Detran ganhar prêmio nacional. O problema do governo da Ana Júlia é seu núcleo, que tem dificuldades de encaminhar até reivindicações do próprio PT. O PT se queixa dia e noite do governo dela.



P- No caso da Sespa, em que o sr. indicou o secretário Halmélio Sobral, houve denúncias de irregularidades com relação ao hospital regional de Santarém. O que houve nesse caso?



R- De fato, indiquei o Halmélio, que começou bem, nos primeiros meses era festejado como o de melhor desempenho entre os secretários. Porém, depois, passou a desfrutar de um prestígio e intimidade pessoal com a governadora e seus familiares ao ponto de não ouvir mais qualquer orientação minha, conflitar diariamente com toda a sua diretoria e, no episódio do hospital, sugeri que, mesmo momentaneamente, fosse feito convênio com a prefeitura de Santarém para o funcionamento e um convênio com a Uepa para instalar o primeiro hospital universitário do interior do Estado. A forma como foi encaminhada a solução foi orientação do gabinete da governadora. Halmélio para mim foi mais uma decepção. Fiquei na posição semelhante a de um técnico de futebol, que escala o jogador, esse jogador tropeça na bola, chuta pênalti para fora, mas não pode ser substituído, porque a presidente do clube exige que ele jogue no time. Entreguei o lugar do secretário à Ana Júlia, mas ele ficou no cargo até a hora em que quis sair.

P- O que a Ana Júlia deveria fazer para, na visão do PMDB, colocar o governo dela no rumo certo?

R- Não sei, só ela sabe, ou não sabe. Só sei de uma coisa: as reclamações vêm de todos os lados. Da população mais pobre ao setor empresarial. Obras não existem, a insegurança pública domina o Estado e há projetos sociais incipientes.

P- A posição que o sr. está tomando ao defender um rompimento imediato do PMDB com o governo estadual não estaria em rota de colisão com a idéia do presidente do partido, Jader Barbalho, que não se manifesta publicamente sobre o assunto, mas defenderia a manutenção da aliança com Ana Júlia, pensando no Senado em 2010?



R- Não se pode ver a coisa desta forma. O PMDB certamente tomará sua posição, eu apenas estou dizendo que, neste momento, o melhor caminho seria desembarcar do governo, entregando tudo nas mãos da governadora. O Jader está ouvindo todos os companheiros dentro do PMDB e lá as reclamações contra o governo têm sido generalizadas. A posição que o Jader tomará junto com o PMDB está sendo amadurecida. A minha posição é está que estou manifestando. Sou um homem partidário, mas saberei respeitar a decisão que a maioria do meu partido tomar. Repito, porém, que se o PMDB sair agora do governo já sai tarde.

P- O PMDB não está fazendo um jogo para conseguir mais cargos e empregos no governo?

R- Absolutamente. Eu não viria a público dizer as coisas que estou dizendo se não tivesse pensado e avaliado sobre tudo o que o partido vem sofrendo na relação dele com o governo. O nosso partido não precisa fazer jogo, porque tem um excelente cacife eleitoral no Estado. Você viu, na eleição à prefeitura de Belém, a força que o partido demonstrou, lutando contra tudo e contra todos. A própria Ana Júlia retribuiu o apoio que dei a ela para se eleger governadora, fazendo campanha a favor do Duciomar. Ela votou nele. Todas as denúncias que fiz na época da eleição para prefeito se confirmaram, inclusive sobre o caos da saúde. Hoje eu ando nas ruas e sou festejado pelo povo.

P- O sr. se considera traído pela governadora nesse episódio da eleição municipal em Belém?

R- Fui abandonado por um governo que ajudei a construir, assim como o povo do Pará. Mas vou confessar uma coisa: não me arrependo de ter apoiado e ajudado a eleger a Ana Júlia. Quem fez a coisa errada foi ela e não eu. Quem erra é quem não consegue encontrar o ponto de equilíbrio e a boa relação política.

P- Sem mandato ou cargo estadual ou federal, o sr não estaria fazendo críticas ao governo Ana Júlia por não ter sido convidado para fazer parte dele?

R- Pelo contrário, quando a Ana Júlia assumiu o governo fui convidado para ser secretário, mas não aceitei. Disse que se ficasse fora poderia colaborar mais e seguir meu caminho político. Não tenho ressentimento de nada. Fui convidado tanto para ocupar cargo estadual como federal. Recusei o que me foi oferecido por sentir que queriam me dar um emprego, não uma função em que pudesse contribuir para a melhoria do meu Estado. O afastamento momentâneo de um mandato tem sido bom para mim.

P- O site do governo do Pará diz que as saídas de peemedebistas que ocupavam o Detran e o Ophir Loyola ocorreram devido a inúmeras irregularidades descobertas pela Auditoria Geral do Estado (AGE). O que o sr. tem a dizer sobre isso?

R- Não conheço detalhes desse parecer da AGE. O órgão, como braço do Estado, é dirigido por pessoa de confiança da governadora. Me parece, contudo, que esse parecer é um pouco esquisito. Por exemplo, o Hangar já mereceu denúncias em O Liberal e em outros grupos de comunicação do Estado, assim como o problema dos kits escolares, inclusive junto ao Ministério Público, mas não vi mudanças nem na direção do Hangar, nem na Secretaria de Educação, ou mesmo na Secretaria de Meio Ambiente, sobre a qual também pairam denúncias. Credito o que ocorreu envolvendo órgãos ligados ao PMDB a mais uma manobra política do governo. É fogo amigo junto com a intenção de querer substituir dirigentes.



P- O sr. apoiaria a governadora em 2010?

R- Entendo que o PMDB deveria lançar candidato próprio em 2010. Meu trabalho é para retornar à Câmara dos Deputados, porém se o partido quiser estou pronto para disputar o governo.

P- Que nota daria para ela?

R- Eu a reprovaria, dando a ela chance de recuperação. Se ela não conseguisse se recuperar irá entrar para o ranking dos piores governos que o Pará já teve. Quero encerrar fazendo uma comparação: como deputado federal, eu trouxe para o Pará mais obras, graças às emendas que consegui em Brasília, que a Ana Júlia nesses três anos de governo dela. ( FIM )

Fonte: Rádio Tabajara.

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